rkmagazine.es: abril 2010

Epidemiologia dos Acidentes Ofídicos ocorridos no Estado do Espírito Santo (1994 à 2003)

O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento epidemiológico dos acidentes ofídicos ocorridos no estado do Espírito Santo. Os dados foram obtidos na secretaria Estadual de Saúde, onde os acidentes ocorreram quase que 100% com serpentes do gênero Bothrops ( Jararaca), principalmente em zonas rurais em culturas de café, acometendo mais trabalhadores e em épocas de maior produção e que se acidentam devido à falta de informação e equipamentos de proteção.

Material e Métodos

Foi realizado um levantamento das fichas de investigação de todos os casos de acidentes ofídicos notificados no Estado do Espírito Santo, no período de 1994 à 2003 presente na Secretaria Estadual de Saúde, através do banco de dados do programa SINAN ( sistema de Informação Nacional de Agravos Notificáveis). Onde foram analizados através do número de acidentes por mês e ano, gênero da serpente envolvida no acidente, idade e sexo dos acidentados, município de ocorrência, zona (rural ou urbana0, quando a circustância ( trabalho, lazer, outros0, local da picada, sinais clínicos ocorridos, gravidade do acidente, tempo ocorrido entre o acidente e o atendimento e quando ao período de ocorrência.

Resultados e discussão

No período de 1997 a 2003, ocorreram 24.332 acidentes por serpentes. Os municípios de maior prevalência foram: Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá, Brejetuba, Santa Tereza, Muniz Freire e Pancas. Prevalecendo em todos os anos o maior número de acidentes em indivíduios do sexo masculino, em regiões rurais e trabalhadores envolvendo indivíduos de várias faixas etárias, onde a que mais se destacou foi entre 15 e 30 anos; a região do corpo mais atigida foram os membros, tendo os membros inferiores em 1º lugar. Os sintomas mais ocorridos na região da picada foram: dor, eritema, esquimoses, abscessos, e bolhas.

Do período de 1994 a 2003, o ano de 2003 foi o que ocorreu um maior número de acidentes, e com prevalência no mês de maio, junho e julho. A prevalência de acidentes do ano de 2003 em relação aos outros anos anteriores, na mesma época (maio, junho e julho) ocorreu uma queda de acidentes no verão, por fatores ambientais além de ser o período em que as pessoas possuem um maior contato com a natureza (período de férias). Sugerindo que no ano de 2003 este aumento de acidentes no período de maio a julho, tenha ocorrido devido esta época ser o pico de colheita do café visto que a principal economia do Estado do Espirito Santo é a cultura do café conilon e arábica, exigindo então um aumento de mão de obra no meio rural, e por trabalhadores não usarem equipamentos de segurança como (botas, luvas, etc.), aumenta o número de acidentes. As serpentes costumam ficar no caule do pé de café, e os trabalhadores durante a colheita se acidentam. As serpentes também costumam ficar na arruação do café (monte de folhas que são juntadas ao redor da árvore, servindo como matéria orgânica), devido ao micro clima que forma, pois neste período de inverno principalmente ficam próximos a matas, devido ao frio, as serpentes vão para estas propriedadesa procura de um clima favorável (quente), ocorrendo assim um aumento do número de acidentes, considerando assim o acidente ofídico já como acidente de trabalho.

A realidade do Estado não está muito diferente no resto do Brasil, os dados referentes a sexo, idade, local do acidente, procedência e segmento corporal picado, foram semelhantes aos encontrados na literatura. considerando-se as descriçãoes realizadas pelos médicos, pacientes ou acompanhates, para reconhecimento da serpente causadora dos acidentes foi atribuida ao gênero Bothrops sp, devido á eecologia local.

Não houve dificuldades de acesso ao tratamento, pois a maioria foi atendida dentro do prazo, isto é, menos de seis horas. Isto provavelmente favoreceu o fato de ade a maioria dos acidentes terem sido de grau leve, o que está diretamente relacionado ao tempo entre o acidente e o atendimento. A letralidade foi em média de 0,1%, dentro da média nacional. os sintomas também estão condizentes com a literatura. O agravante é que há registro no SINAN de acidentes sem tratamentos, o que não pode ocorrer nos casos de acidentes por serpentes peçonhentas.

Conclusão

Devido a maioria dos acidentes hoje estarem ocorrendo no trabalho (em lavradores), hoje já se tem considerado como acidente de trabalho, mais isto ocorre devido a falta de de orientação, ou mesmo por não usar os equipamentos adequados para a prevenção de acidentes (como exemplo o uso de botas de cano alto); o que deveria ser feito para melhorar, é que os patrões, proprietários tivessem esta consci~encia e exigissem o uso de equipamentos adequados, visto que estão a trabalho. Outro fator do aumento do número de acidentes é devido ao desmatamento, onde estão desmatando para plantação de monoculturas como exemplo o café e a criação de gado, restringindo assim mais o habitat desses animais. estas culturas atraem os roedores, e consequentemente as serpentes, que cada vez mais estão invadindo as áreas.

Então os proprietários e todos nós, devemos estar cientes que isso está ocorrendo devido ao nosso próprio erro, onde o correto era fazer campanhas, orientando a população nos locais onde tem um maior número de acidentes, e principalmente como prevenir e como proceder caso eles ocorram.

Dra. Brunella Cruz Pires - CRMV-ES 00698